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Apontado para a cabeça, um revólver. Dentro dela, o pensamento na família. E, assim, o motorista que por motivos de segurança será chamado nesta reportagem pelo nome fictício de Ricardo, ficou por quatro horas deitado no chão da cabine do próprio caminhão, até que os bandidos roubassem a carga de diesel. “O tempo todo, diziam que iam me matar. Foi horrível”, conta. Ricardo faz parte de uma estatística desconhecida, porém crescente.

Só a rede de postos para a qual ele trabalha sofreu três assaltos em menos de dez meses. “O setor não tem números contabilizados, mas toda semana ficamos sabendo de um assalto. A sociedade acaba pagando, porque essas perdas encarecem o seguro, o frete fica mais caro, e tudo vai para o custo final do produto”, explica o presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis de Minas Gerais (Minaspetro), Carlos Guimarães, que é dono da carga que estava sendo levada por Ricardo.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (Sesp-MG), no geral, o roubo de cargas está em queda no Estado. De janeiro a julho de 2018, foram 295 ocorrências, 23% a menos em relação ao mesmo período do ano passado. Entretanto, o órgão não disponibiliza os dados exclusivos de combustíveis. “Os dados gerais indicam uma redução no roubo de cargas, entretanto há uma sensação de aumento do ramo dos combustíveis, porque houve uma concentração de vários roubos num curto intervalo de tempo”, destaca o assessor de segurança da Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg) Ivanildo dos Santos.

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Para o empresário Wesley Conte, 30, a sensação foi de prejuízo. “O motorista estava levando uma carta de 35 mil litros de diesel, que tinha buscado na Refinaria Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Perto de Magé, um caminhão emparelhou com o dele e apontou a arma. A carga era de R$ 105 mil”, relata. O trauma fez o o motorista largar o trabalho.

Tanto Guimarães quanto Conte usam caminhão próprio ou terceirizam para levar o combustível até o posto. Eles fazem parte de um grupo de transporte chamado Free on Board (FoB), no qual o comprador da carga é quem paga pelo frete e, portanto, assume custos e riscos. Quando as distribuidoras são contratadas para levar o combustível, são elas quem assumem todos os custos, no chamado Cost, Insurance and Freight (CIF). “O que percebemos é que o volume geral de roubos está caindo entre as distribuidoras, que fazem elevados investimentos em segurança e gerenciamento de risco. Elas respondem por 40% do total transportado. Sendo assim, os do tipo FoB ficam mais vulneráveis aos assaltos e, para eles, temos percebido crescimento de roubos”, justifica o gerente de planejamento estratégico da Plural (associação das distribuidoras), Carlo Rodrigo Faccio.

Conte tinha seguro para o veículo e para a carga, mas, como não tinha contratado o gerenciamento de risco – uma exigência da seguradora para indenizar 100% do prejuízo –, ele conseguiu reaver apenas R$ 50 mil. “A gente teve que correr atrás, porque não dava para repassar tudo para o preço, afinal o cliente não tem culpa que o combustível foi roubado. Eu tive que cortar gastos”, afirma.

Segundo o Minaspetro, o Estado conta com 4.000 postos cadastrados. Assim como não há dados oficiais sobre o volume de carga de combustível roubada, também não há uma estimativa do total de postos que possuem seguro contra tal roubo. Entretanto, o aumento da procura desse serviço indica que a preocupação tem aumentado.

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Na Intermezzo, corretora que tem como público-alvo os postos de combustível, a quantidade de ligações em busca de informações sobre o produto cresceu 40%, segundo o sócio-diretor Alexandre Mucida. “Os empresários estão mais preocupados e começando a entender que trata-se de investimento, pois o valor do seguro é irrisório se comparado ao valor da perda”, afirma. Por falar em perda, os três assaltos renderam um prejuízo de R$ 240 mil a Guimarães, que não tinha seguro. “Depois dos episódios, eu fiz”, destaca.

 Transporte rodoviário desafia seguros – Para cada R$ 100 que a indústria de seguros recebe de quem contrata uma apólice para transporte de cargas, ela tem que gastar R$ 116, segundo dados de 2017, da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). “O seguro do transporte rodoviário é, sem dúvidas, uma das carteiras mais desafiadoras do mercado nacional de seguros do Brasil. E o ramo de desaparecimento de cargas é um dos mais preocupantes, tendo em vista a evolução de roubos”, afirma o vice-presidente do Sindicato das Seguradoras (SindSeg MG/GO/MT/DF), Ângelo Vargas Garcia.

Em relação a 2016, o índice de sinistralidade desse setor cresceu 20%. “Algumas seguradoras já desistiram de oferecer o produto”, destaca Garcia. Entre as que permanecem, mudanças são inevitáveis. “Há cinco anos, quando o cliente não tinha gerenciamento de risco, as seguradoras indenizavam até R$ 100 mil. Agora, esse sublimite caiu para cerca de R$ 60 mil”, explica o sócio-diretor da corretora Intermezzo, Alexandre Mucida.

Falta de investimento e de reposição são agravantes – Nos últimos quatro anos, as perdas com roubos de cargas subiram mais de 50%, atingindo R$ 1,57 bilhão em 2017. Segundo o assessor de segurança da Fetcemg Ivanildo dos Santos, em Minas estima-se prejuízo de R$ 230 milhões. “Mesmo com os esforços da polícia, percebemos algumas causas estruturais para o roubo de carga, uma delas é o aumento agentes aposentados e a falta de reposição”, afirma. “Ao mesmo tempo, a infraestrutura para a investigação não recebe investimentos, e o número de quadrilhas não para de crescer”, destaca o assessor de segurança da NTC&Logística) coronel Paulo Roberto de Souza, ressaltando a importância de se revisar a legislação, com penas mais duras para os receptadores.

Leis fracas – “É necessário revisar legislação, com penas mais duras para crimes de receptadores. Pois a indústria do roubo só existe porque existe a indústria da receptação.” Carlo Rodrigo Faccio, Gerente de planejamento da Plural

Fonte: O Tempo

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