O que muda com 80% do mercado nas mãos de três companhias distribuidoras?
Banner_Uniformes_Categoria 920x248px
Com mais um anúncio de aquisição de distribuidoras pequenas pelas gigantes do mercado de combustíveis, o País passará a ter apenas três grandes companhias, dominando 80% da distribuição de derivados de petróleo e etanol hidratado.
Se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ratificar a compra da Ale pela Ipiranga, além dela, o segmento será dominado pela BR e Raízen, sendo esta última resultado da integração entre Cosan e Shell em 2011. Um ingrediente importante neste caldeirão de especulações é o que deve acontecer com a BR, líder entre as grandes companhias, mas que está na mira da Petrobras como um dos ativos que se colocados à venda podem lhe render milhões de dólares.
O anúncio da Ultrapar sobre a compra da Ale pela sua subsidiária Ipiranga foi feito no dia 12 de junho, informando o mercado sobre um negócio de R$ 2,17 bilhões. O interesse da companhia é de “coplementar sua rede na região Nordeste, onde possui menor participação de mercado”.
A Ale, quarta maior distribuidora do País, tem 2 mil postos e 260 lojas de conveniência. Já a Ipiranga possui 7.241 postos atrelados à sua marca e uma rede de 1.919 lojas am/pm.
A Ale encerrou 2015 com receita de R$ 11,4 bilhões e R$ 275 milhões de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Já a Ipiranga, no ano anterior, teve um Ebitda de R$ 2 bilhões 288 milhões.
A manutenção do ritmo de expansão da rede já estava nos planos da Ipiranga para 2016. A companhia já tinha anunciado investimento de R$ 354 milhões para efetivar planos de embandeirar postos bandeira branca e abrir novos postos e de franquias am/pm e Jet Oil.
O foco da distribuidora está nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte e em novos centros de distribuição para atender às lojas de conveniência. A companhia também anunciou R$ 112 milhões para ampliação da infraestrutura logística e de R$ 421 milhões na manutenção e modernização de suas atividades, principalmente em “renovação de contratos de sua rede de distribuição, reforma de postos e sistemas de informação para apoiar suas operações”.
Federação já analisa impacto da concentração de 80% do mercado nas mãos de três companhias
O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda (foto), diz que a concentração do mercado distribuidor na mão de poucas companhias é um fator de alerta.
Um economista e um advogado da Federação já estão analisando os impactos para o mercado revendedor. “Não é bom para o mercado. Gostaríamos de voltar ao tempo em que tínhamos as grandes distribuidoras atuais e, além delas, a Shell, a Texaco, a Atlantic… Tínhamos sete grandes empresas, além das distribuidoras regionais fortes”.
Segundo Miranda, o revendedor que soube manter sua independência, que trabalha com equipamento próprio e tem uma vida financeira equilibrada têm vantagens nas companhias regionais. Este é um caminho caso ele passe a receber pressão decorrente de o mercado estar 80% concentrado nas mãos de três empresas.
A distribuição brasileira apenas não se equipara ao mercado do Chile no passado, quando 86% do atacado estavam nas mãos da Esso e da Shell, porque, no país vizinho, a revenda não tinha a opção das empresas regionais.
Miranda reconhece que o setor é fortemente regulado pela ANP e que isso afasta os riscos. “Nós temos uma porta de saída. Vivemos em uma revenda madura, inteligente e somos amparados por resoluções da ANP que nos dão a alternativa de mudar de companhia caso a atual não nos satisfaça. Como liderança sindicais, a Fecombustíveis e os sindicatos têm que vigiar essa legislação”.
Varejo deve ficar alerta quanto ao abuso de poder econômico
Em momentos de crise é comum a ocorrência de fusões e aquisições em empresas menos capitalizadas ou até endividadas por outras melhores posicionadas. Esta é a opinião do advogado especialista em Direito Concorrencial, Arthur Villamil. Ele afirma que o Brasil vem experimentando um alto índice de concentração em setores essenciais, o que pode indicar tendência à retração da competição e redução da oferta ao consumidor.
Villamil cita exemplos anteriores, como as fusões de bancos, companhias áreas, seguradoras… “Nem sempre um ato de concentração é negativo. O Cade costuma ser criterioso e, muitas vezes, impõe medidas para amenizar a possibilidade de abusos de poder econômico”.
Para o advogado, a aquisição da Ale pela Ipiranga terá como primeiro impacto a maior concentração de mercado e a redução das opções de contratação para os revendedores. Um segundo efeito esperado é a possível imposição aos atuais revendedores da Ale das políticas comerciais da Ipiranga, que podem ser menos vantajosas.
Também merece atenção a possibilidade de a Ipiranga reforçar seu poder de mercado no ramo das lojas de conveniência e outras franquias.
Segundo os dados da ANP, na região Sul do País, a Ipiranga detém 24,8% dos postos com contratos vinculados. A segunda colocada é a BR, com 16,8%. “Nessa região, o grau de concentração da Ipiranga será muito grande, gerando a possibilidade de exercício do poder econômico”.
 
Bandeira branca
Para o jurista, outros efeitos que devem ser observados seriam a possível redução de oferta aos revendedores bandeira branca.
Atualmente a Ale detém um share de mercado de aproximadamente 5% do volume comercializado de combustíveis automotivos em todo o território nacional, mas detém apenas 3,1% dos postos em sua rede. Isso significa que a Ale é um dos grandes fornecedores aos postos bandeira branca, que atualmente representam mais de 39% dos postos do Brasil.
“Com a aquisição da Ale, a Ipiranga passará a fornecer esse combustível aos postos bandeira branca e terá capacidade para elevar preços ou dificultar o atendimento com o objetivo incentivá-los a aderir à marca.
Caso isso ocorra, estaremos diante de nítido abuso de poder econômico.
Por isso, entendo que o Cade deve adotar certos remédios neste ato de concentração, justamente para prevenir situações desse tipo”.
 
Postos Ale serão substituídos pela Ipiranga
A assessoria de imprensa do Grupo Ultra comenta sobre o processo de aquisição. Os postos Ale, aos poucos, serão substituídos pela Ipiranga. “A transição acontecerá de forma gradativa, até a completa mudança de bandeira. Temos a visão de que o relacionamento dos revendedores com a Ale é muito boa, e isso será mantido”.
Sobre a expectativa de confirmação do negócio pelo Cade, a assessoria ressalta que o processo para analisar e autorizar a negociação pode demorar muitos meses. “Até lá, são duas empresas concorrentes e que
continuam disputando mercado, totalmente independentes”.
Atualmente, a Ale abastece muitos postos bandeira branca. A assessoria do Grupo Ultra afirma que este papel será mantido e que o processo de abastecimento será igual.
BR, o principal player do mercado
Os rumores de que a BR Distribuidora pode constar entre os ativos à venda da Petrobras aumentam a especulação sobre o futuro da revenda nacional. Endividada, a estatal já recebeu uma oferta pela companhia distribuidora, segundo informações do presidente Pedro Parente. Em entrevista à GloboNews, no dia 16 de junho, o executivo não detalhou se a ideia é vender uma participação minoritária ou o controle da BR.
Paulo Miranda, da Fecombustíveis, tem dúvidas se colocar o bem mais precioso da Petrobras a venda é uma estratégia acertada.
“A BR é o canal de distribuição dos derivados de petróleo produzidos pela Petrobras. Não acredito que se queira abrir mão integralmente deste mercado”.
O advogado Arthur Villamil, consultor da Federação e do Minaspetro, aponta efeitos inesperados para o mercado caso a BR seja vendida em fatias. Neste cenário, a Ipiranga facilmente passaria ser a líder de mercado, fato que não pode ser ignorada nas análises prospectivas de mercado.
“Em minha opinião, o problema não seria a entrada de multinacionais. Creio que o grande problema seja a parca regulação do mercado de distribuição e o seu elevado nível de concentração, bem como a sensível diminuição
entre as distribuidoras que vem sendo percebida desde 2015 pelos revendedores”.
Rede de varejo
Consolidada a aquisição, a Ipiranga passará a ser a primeira em número de postos no País. Somados à rede Ale, a companhia pode passar das 9 mil unidades.
A BR tem 8 mil postos e a joint venture da Shell e Cosan – Raízen tem, hoje, uma rede de mais de 5.800 pontos.
Combustível
Em termos de market share, os números variam de acordo com produtos. A BR tem 26,2% do market share da gasolina e a Ipiranga + Ale ficará com 25,6% (contra 20,4% anteriores), seguida pela Raízen, com 20,5%.
 
Fonte: http://www.resan.com.br

Artigo anteriorComercializar GLP pode ser alternativa para driblar a crise na Revenda
Próximo artigoProjeto quer obrigar postos de todo o país a avisar sobre combustível mais vantajoso.
O Blog Brasil Postos é a maior fonte de informação de notícias e conteúdos para o segmento de postos de combustíveis e lojas de conveniência. Cerca de 75% dos gestores de postos de combustíveis acessam a plataforma do Portal Brasil Postos pelo menos uma vez por mês.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here