Encher o tanque do carro acima do limite aumenta chances de frentistas terem câncer.Valmira de Brito, de 46 anos, trabalha em postos de gasolina há 18 anos, mas não sabia dos riscos que sua saúde corria.

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Ao lidarem com a gasolina, milhares de trabalhadores como ela aumentam suas chances de desenvolverem doenças graves porque ficam expostos ao benzeno, uma substância cancerígena. No entanto, uma medida simples, já proibida por uma lei no Estado do Rio, ajuda a diminuir os riscos: basta o frentista não encher o tanque do veículo acima do automático, quando a própria bomba sinaliza que o tanque está cheio, para evitar a liberação de um vapor com alta concentração de benzeno.

Um estudo inédito desenvolvido pelo Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/ PUC-Rio) em parceria com o Laboratório de Toxicologia (Latox) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostrou que frentistas apresentaram uma diminuição de leucócitos (células brancas), especialmente os neutrófilos, que são responsáveis pela defesa do organismo, alertando para o risco dos quase 550 mil frentistas de todo o país. As cientistas Adriana Gioda, do CTC/PUC-Rio e Solange Garcia, do LATOX/UFRGS, coletaram amostras do ar de postos do Rio de Janeiro e biológicas (sangue e urina) de frentistas de postos do Rio Grande do Sul para esta análise.

— Foi possível observar os danos aos sistemas hematológico e imunológicos. Temos milhares de frentistas no país, e a exposição diária pode resultar em anemia, baixa defesa do organismo e, futuramente, em câncer. Esse resultado é para chamar a atenção das autoridades — disse Adriana Gioda.

Ela acredita que os frentistas deveriam usar máscaras no dia a dia para diminuir os riscos, além de passarem por exames clínicos periódicos.

— Ainda falta conscientização porque, mesmo os frentistas alertando, as pessoas ainda pedem para encher o tanque até a boca — alerta.

Valmira participou de um estudo da Fiocruz, no período de 2010 a 2013, e teve amostras do sangue e de urina coletados. Ela não desenvolveu nenhuma doença, mas agora toma mais cuidados em sua rotina de trabalho. Como, atualmente, é gerente de um posto em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, ela orientar colegas e consumidores.

— Foi uma surpresa saber dos riscos e, desde que soube disso, passei a tomar cuidado e não deixo o produto cair na minha pele. Quando vou fazer análises da gasolina uso óculos — afirma Valmira. Outro cuidado que ela tomou foi o de não encostar as flanelas usadas no abastecimento na pele. Anteriormente, ela colocava a flanela que usava para auxiliar o abastecimento no ombro ou no bolso, por exemplo.

No Rio, lei proíbe frentistas de encherem o tanque até a boca – No Estado do Rio, está em vigor desde janeiro deste ano a Lei nº 6.964/14 que proíbe frentistas de abastecerem os veículos além da trava. São 35 mil trabalhadores em todo o estado, e 14 mil na cidade do Rio. Em caso de descumprimento, a multa é de cinco mil Ufirs (R$ 13.550). Contudo, o presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Gasolina (Simpospetro) do Estado do Rio, Eusébio Pinto Neto, afirma que a luta é para que a substância não esteja mais presente no combustível.

— Seria importante conseguir retirar o benzeno da composição da gasolina porque ele é nocivo pra a saúde do trabalhador em qualquer limite. Ele é volátil, e contamina todo o ambiente. Essas medidas como máscaras e não encher o tanque até a boca são paliativos que ajudam. O que também resolveria seria um equipamento de proteção na própria bomba para evitar a evaporação — afirma.

Segundo o sindicalista, no próximo mês haverá uma carreata para alertar os motoristas sobre os riscos de encher os tanques além do limite. Além disso, há mobilizações nacionais para que as doenças oriundas do contato com o benzeno como alergias, anemia e leucemia sejam reconhecidas pelo Ministério da Previdência como doenças ocupacional dessa atividade.

— Várias trabalhadores morreram de leucemia, mas como não têm acompanhamento médico, eles não sabem se adquiriam isso no trabalho. Todos os que trabalham em postos estão expostos. O cliente vai e sai, mas o trabalhador fica oito horas correndo riscos — sintetiza.

 

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