Com o conhecimento de quem atua há mais de 40 anos no setor de combustíveis, Roberto Leandrini Júnior garante que não é o dono do posto o responsável pelos preços altos cobrados dos consumidores.

Ele isenta também a Petrobras e diz que o problema está no excesso de tributos que incidem sobre os produtos.

André Henriques/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra

Atual presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista e Derivados de Petróleo do Grande ABC), Leandrini contesta pesquisa da ANP (Agência Nacional de Petróleo) que aponta que os preços mais altos da Grande São Paulo são praticados nos postos da região.

“A questão é que o Grande ABC está um pouco mais resguardado da bandidagem que cerca esse segmento. Eu diria que 40% do nosso setor hoje está nas mãos de facções criminosas e aí existe produto roubado, misturado, sonegado. Quem trabalha corretamente não consegue vender barato”, afirma.

 1️⃣ Por que o combustível está tão caro?

A gente tem de entender que o petróleo ainda é a primeira commodity do planeta Terra e não está aumentando somente no Brasil.

É a velha lei da oferta e da procura. O planeta ficou aí um ano e meio, quase dois, parado. A roda começou a girar agora. A demanda por petróleo aumentou no mundo todo. E o petróleo não é usado somente para combustível, e sim para a produção de uma série de outros produtos. A China é o maior consumidor do planeta, os Estados Unidos são o segundo. A economia está girando e precisa de petróleo. E o que acontece é o fator demanda.

Aqui no Brasil temos um agravante, que é o fator cambial.

O dólar alto ajuda aumentar o preço. E outro problema é a grande sonegação, que só pode ser resolvido com a criação do imposto único. Isso talvez ajudaria a reduzir o preço ao consumidor. O ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) representa hoje 40% da formação do preço. Os outros 60% são os impostos federais, um pouco fica para a distribuidora, outro para a revenda. Essa receita maior não fica para o dono do posto nem com a Petrobras. É o encargo tributário que forma 70% do preço do combustível. Havendo uma reforma tributária, que não sai do papel, isso pode ser corrigido.  Com o litro de gasolina custando em torno de R$ 7, quanto efetivamente vai para o bolso do dono do posto? São centavos. Sobra de R$ 0,25 a R$ 0,30. É muito pouco. O resto é tudo diluído.

2️⃣ Pesquisa da ANP no início de dezembro mostrou que os postos do Grande ABC tinham o combustível mais caro da Grande São Paulo. Por que isso ocorre?

Eu não concordo muito com essa afirmação. Você vai na Zona Leste de São Paulo, por exemplo, e acha combustível mais barato. Mas a questão é que o Grande ABC está um pouco mais resguardado da bandidagem que cerca o nosso segmento.

Existe uma bandidagem medonha. Eu diria que 40% do nosso setor hoje está na mão de facções criminosas.

E o Grande ABC não tem muito isso. Na Zona Leste e em grande parte da periferia de São Paulo hoje praticamente as facções dominam. E aí existe produto roubado, misturado, sonegado. Então eles têm condições de vender mais barato. Quem trabalha corretamente não consegue vender barato. E isso é um alerta para o consumidor.

3️⃣ E como o consumidor pode se proteger e evitar a compra de produto de má qualidade?

Primeiro de tudo é seguir aquele velho ditado que prega que se o milagre for muito, desconfie, porque tem problema. O milagre é sonegação, carga roubada, bomba misturada, com problema de vazão e mistura. Esse é o milagre.

4️⃣ Essa participação das facções ocorre por quê?

Hoje, algumas facções criminosas estão se aproveitando do nosso segmento. É muito fácil, porque o volume (de dinheiro movimentado) é muito alto. Em um posto gira em torno de R$ 5 milhões por mês e fica muito fácil diluir os valores (suspeitos).

5️⃣ Existem quantos postos de combustíveis no Grande ABC?

São 380 postos. E 70% deles estão filiados ao Regran. A nossa intenção é oferecer algumas vantagens para os filiados, criar diferencial para que mais postos se filiem.

6️⃣ O que o Regran e seus associados fazem para que o consumidor saiba que os postos filiados trabalham direito?

Já fizemos várias campanhas para esclarecer o consumidor que ali ele está seguro. Vamos fazer uma campanha nas redes sociais para que o consumidor não fique focado apenas no preço. Tem de focar em outras coisas, nos serviços que o posto oferece. E o fato de o produto custar mais não é garantia de que será bom. Existem laranjas podres no setor. E quando a gente identifica, vamos para cima. Costumamos, com olho no olho, conversar para corrigir. Fazemos o serviço que deveria ser da ANP e do Ipem (Instituto de Pesos e Medidas). Estes órgãos fazem o que podem, mas têm limitação de pessoal e também de legislação.

7️⃣ Quantos empregos os postos oferecem?

Contando os postos e as lojas de conveniência, são mais ou menos uns 6.000 empregos diretos e uns 15 mil indiretos.

8️⃣ O setor evoluiu demais. O que falta oferecer nos postos?

Acho que a criatividade é infinita. Hoje tem uma onda forte de instalar lavanderias nos postos. Tem uma rede mexicana de lojas de conveniência, chamada Oxxo, que está absorvendo a operação dos postos. É uma tendência de verticalização das lojas. Isso pode ser bom para o dono do posto, que muitas vezes não tem condições de controlar esse serviço.

9️⃣ A pandemia impactou muito o setor de postos?

Foi um período tenebroso. No qual perdemos 70% do volume de vendas. E a conta do ‘fique em casa que a economia vem depois’ chegou agora, porque ficaram sequelas.

Os que conseguiram sobreviver estão cheios de dívidas.

Pelos próximos dois ou três anos nós ainda vamos sofrer. O vírus foi politizado. Há pouco tempo o governo federal zerou os impostos do diesel e pediu para que os governadores reduzissem o mesmo com o ICMS, e os Estados não fizeram isso. Esse é um problema sério do Brasil. As vezes a política fala mais alto do que a razão.

▶ Estamos vivendo um clima de retomada. Como os postos estão sentindo isso?

A retomada está sendo boa, apesar de a gasolina estar custando quase R$ 7 o litro. A demanda está aumentando porque as pessoas querem sair de casa. Temos uma demanda reprimida e isso faz a economia circular.

▶ O que acontece com os maus comerciantes quando são flagrados cometendo algum tipo de delito?

Volta e meia é noticiado o fechamento de um posto por algum tipo de fraude e pouco tempo depois ele volta a funcionar. Eu escuto da fiscalização que, muitas vezes, o posto que é fechado de manhã à tarde tem uma liminar da Justiça e pode reabrir. Eu concluo que o Judiciário é conivente. Eles (donos de posto) alegam que têm funcionários e que precisam trabalhar, pedem direito a defesa. A gente fica com o nariz de palhaço.

▶ Como o senhor vislumbra o futuro dos postos?

Daqui a 15 ou 20 anos o mercado vai migrar para os carros totalmente elétricos, híbridos ou movidos a hidrogênio. Acho que o segmento vai ter de sofrer alguma reformulação.

Os postos que vivem só da gasolina vão ter de mudar de ramo.

Dou 20 anos para que as petrolíferas mudem o foco de suas atividades. A hora que popularizar o carro elétrico, aí o nosso segmento está fadado a sofrer um reverso total.

O posto de combustível ocupa entre 900 e 1.000 metros quadrados de área. O dono vai ter de utilizar esse espaço para outras coisas.

Transformar em restaurante, numa área de lazer, porque você vai abastecer seu carro no prédio e não mais no posto.

Nome: Roberto Leandrini Júnior
Idade: 60 anos
Local de nascimento: São Caetano
Formação: administração de empresas
Hobby: trabalho
Local predileto: praia
Livro que recomenda: Nosso Lar e O Príncipe, de Machiavel
Artista que marcou sua vida: Pink Floyd
Profissão: comerciante
Onde trabalha: Leandrini Auto Posto, Leandrini Rock Bar, Leandrini Turismo e Transportadora Leandrini

Fonte: Diário do Grande ABC

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