Arla_32

Um mau exemplo, uma fraude que coloca em risco o meio ambiente e a saúde de milhões de brasileiros. Metade da poluição nas grandes cidades vem do escapamento de caminhões que rodam com diesel.
A lei estabelece que eles devem usar um aditivo simples, chamado Arla 32, que praticamente elimina esse problema. O problema é que agora, para economizar, caminhoneiros descobriram uma maneira de burlar a lei e rodar sem o Arla 32.
Nada polui mais o ar das grandes cidades do que os caminhões. Dos canos de escapamento dos veículos a diesel saem óxidos de nitrogênio.
“Você olha para o horizonte e vê aquela faixa amarronzada no horizonte. Aquilo é efeito dos óxidos de nitrogênio”, conta Elcio Luiz Farah, diretor da Associação de Controle de Emissões.
Arla 32 é um composto químico que é injetado no sistema de escapamento dos caminhões. Ele transforma os óxidos de nitrogênio em nitrogênio e água.
“Produtos completamente inofensivos, contrariamente aos óxidos de nitrogênio que são muito agressivos ao meio ambiente”, explica Elcio Luiz Farah.
O uso do Arla 32 reduz pela metade a poluição nas grandes cidades brasileiras.
“Veículos diesel pesados representam menos de 10% da frota, mas eles, no seu conjunto, emitem 50% da poluição. Portanto, se eu tiver veículos diesel que emitam menos, eu resolvo a poluição do Brasil pela metade. Taí um bom negócio”, avalia Paulo Saldiva, professor de medicina da USP.
Para obrigar os caminhoneiros a usar o Arla, um sistema eletrônico que vem de fábrica diminui a potência do motor se os caminhões não são abastecidos com esse aditivo.
Apesar da obrigatoriedade por todas as estradas do Brasil, os motoristas estão burlando o sistema dos caminhões com um aparelho, conhecido como chip, instalado dentro do painel do caminhão.
Marcos Rogério, caminhoneiro: A única coisa que eu sei é que se não usar, perde a potência. Mas aí a turma tá pondo o chip porque daí não perde potência nenhuma. Mas varia isso daí de R$ 2 mil a R$ 3 mil.
Fantástico: E vale a pena no investimento de médio a longo prazo para o motorista?
Marcos Rogério: Vale, vale.
José Oscar Costa, caminhoneiro: Tem muita gente aí que não usa o Arla, que burla. E tem esse sistema. Já existe há um tempo já. A gente se vira como pode. A realidade é essa. A gente está fazendo do tudo pra baixar custos. E é isso.
Fantástico: O seu caminhão hoje tem Arla?
Costa: Tem.
Fantástico: Você pretende inibir o sistema do Arla no seu caminhão?
Costa: Sim.
“A maioria desliga. Um balde desses custa hoje em média R$ 50. Aí eu gasto, vamos supor, oito baldes para vir da Bahia e voltar”, diz o caminhoneiro Carlos José Gomes.
“Tem que tentar baratear ao máximo a despesa hoje do caminhão, do veículo, para conseguir compensar o valor do frete”, diz Marcos Rogério.
O Fantástico encontrou o aparelho clandestino para vender na Zona Leste de São Paulo. A vendedora mostra dezenas do chamado “chip” e explica o funcionamento.
Fantástico: Uma para cada caminhão, né?
Mulher: Para cada veículo.
Fantástico: Uma para cada veículo.
Fantástico: Essa é placa que fica dentro do caminhão.
Mulher: Isso.
Fantástico: E essa plaquinha aqui ela serve para avisar. Verde: está instalada. Vermelha: ela não está mais instalada.
Mulher: Quando ela fica no caminhão ela acende verde também, para mostrar que está ok.
Além do golpe do chip, existem outros: muitos motoristas simplesmente enchem o tanque de Arla 32 com água.
Fantástico: O que que é isso que você está botando aqui?
Motorista: Água, para misturar com o  Arla.
Fantástico: É comum o uso de outras substâncias?
Maurílio Healt, caminhoneiro: Pros motoristas na estrada? Os caras vão me apertar o pescoço, mas muita gente faz.
“A maioria é água. A grande maioria é água”, conta o caminhoneiro Luciano Silva.
“O padrão dele normal é R$ 43. Aí eu compro, encho as gavetas. Mas tem lugar que chego é R$ 100, R$ 80. Aí eu coloco água”, revela o caminhoneiro Robson Alan Souza Sampaio.
O caminhoneiro Adailton Fernandes simplesmente danificou o sensor do Arla do caminhão. “Foi só tirar o ‘fuzil’. Tá sem o ‘fuzil’ até hoje”.
Adailton Fernandes: O “fuzil” a que ele se refere é o fusível. “O tanquinho tá cheio, mas não tá funcionando, não. Eu estou economizando de R$ 500 a R$ 700 mais ou menos
Fantástico: Em cada viagem?
Adailton Fernandes: Em cada viagem. A preocupação é total com o meio ambiente. Mas eu preocupo com o meu bolso.
“Não dá pra entender esse negócio dessa poluição, que que influi isso daí”, diz Carlos José Gomes.
A questão disso até hoje eu não vi ninguém assim ainda ter uma prova lógica disso aí pra mim. Eu não vi ainda de que vai fazer impacto ou não vai”, diz o caminhoneiro Marcos Rogério.
Mas o impacto existe.
“A poluição do ar, e principalmente a poluição pelo diesel, é reconhecidamente causadora de doenças respiratórias, de infarto do miocárdio, de câncer de pulmão e de baixo peso ao nascer”, explica o Paulo Saldiva, professor de Medicina da USP.
Tadeu Cavalcante, pesquisador da Petrobras, testou as emissões do motor com o sem o Arla. O caminhão que não usa o aditivo polui o equivalente a até cinco caminhões.
“Nós encontramos uma ordem de grandeza de 5 para 1. Ou seja, um aumento de cinco vezes das emissões quando não utilizado o sistema de injeção de Arla 32”, explica Cavalcante.
Essas emissões dos motores a diesel são as maiores vilãs para o meio ambiente.
“Em São Paulo a gente já quantificou isso, são 40% da poluição, o que equivale, a grosso modo, a 1.800 mortes anuais prematuras. Ou seja, o que justifica você promover a mortalidade precoce de 1.800 pessoas? Para idosos, para crianças, para pessoas que já tinham doenças respiratória e cardiovascular pode significar a diferença entre saúde e doença e entre vida e morte”, diz Paulo Saldiva.
“A utilização desse tipo de dispositivo é um crime ambiental e um crime contra as leis de trânsito também”, alerta Farah.
“E além da poluição causada pela não utilização do Arla, esses proprietários de veículos estão correndo um sério risco de perder a garantia dos seus veículos e também ser multados de R$ 5 mil a R$ 50 milhões”, observa Volney Zanardi Junior, presidente do Ibama.
“Deveria existir mecanismos de incentivo para que eles pudessem fazer o bem pra todos, inclusive para eles, mas não pagar a conta sozinho”, diz Saldiva.
Assista ao video:

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